Moldagem em dois passos


Carlos Martins Agra
Mestre e Doutor em Dentística Restauradora FOUSP
Coordenador do Curso de Especialização em Dentística Restauradora do SENAC SP
Taciana Emília de Almeida Anfe
Mestre e Doutora em Dentística Restauradora FOUSP
Professora do Curso de Especialização em Dentística Restauradora do SENAC SP
Denis Yude Nagase
Mestre e Doutor em Dentística Restauradora FOUSP
Fratura de cúspide palatina. Ampla restauração de resina composta.
Aspecto vestibular que evidencia falha da restauração direta de resina.
Aspecto após a remoção da restauração de resina. A pequena porção coronária remanescente indica a necessidade de optar por uma coroa total associada à instalação de um pino intra-radicular ou por uma restauração parcial, tipo onlay.
A decisão recaiu na opção mais conservadora. O preparo para a onlay demandou a realização de preenchimento coronário com resina composta. Detalhe do condicionamento com ácido fosfórico por 15s. O ácido foi lavado e sistema adesivo foi aplicado e polimerizado
Os materiais de moldagem deveriam atender aos quesitos de estabilidade dimensional, resistência ao rasgo, equilíbrio entre rigidez e flexibilidade, apresentar cor contrastante que facilite a visualização de detalhes e apresentar hidrofilia para que não seja repelido por fluidos contidos no sulco gengival. Dentre os materiais elásticos temos a opção de usar hidroclóides irreversíveis (alginato), hidrocolóides reversíveis, siliconas, poliéteres e mercaptanas (polissulfetos). As siliconas se destacam como a opção que apresenta adequada capacidade de reproduzir detalhes, dispensam o uso de equipamentos especiais e tem consistência, odor e gosto toleráveis pelos pacientes.
A embocadura do canal foi utilizada como meio auxiliar de retenção. Uma resina flow é útil para preencher esta região e favorecer um perfeito contato entre o material de preenchimento e o remanescente dental.
Inserção incremental e polimerização de resina composta que comporá o munhão coronário.
A capacidade de reproduzir de talhes é aferida pelo ângulo de contato formado entre o material de moldagem e uma superfície. Quanto menor o ângulo de contato maior a acuidade do material. Estes ângulos variam entre 98o para uma silicona hidrofóbica, 82 o para um polissulfeto, 53 o para uma silicona hidrofílica e 49 o para um poliéter(1). As siliconas diferenciam-se pelo modo como ocorre a sua polimerização. As de condensação formam subprodutos que determinam uma menor estabilidade dimensional. Já as siliconas de adição apresentam estabilidade por até 7 dias, o que as torna ainda mais convenientes e confiáveis(2). Ao contrário das siliconas de condensação, as de adição não devem ser vazadas de imediato. A remoção da moldagem da boca leva a ocorrência de deformações que são necessárias para que o material consiga ser removido sem rasgar ao passar por áreas mais retentivas. Quando se emprega uma silicona de adição deve-se aguardar entre uma e duas horas antes de vazar o gesso de modo que a moldagem recupere as dimensões que apresentava quando de sua polimerização em boca (memória elástica).

Coordenação - Prof. Dr. Carlos Agra


Esboço inicial do preparo.

Inserção de fio retrator de pequeno diâmetro para auxiliar na visualização da linha de término. Este fio também é fundamental para a técnica de moldagem com dois fios retratores utilizada neste caso clínico.
Inserção do primeiro fio retrator. O fio excedente por vestibular é cortado e as extremidades são impactadas para o interior do sulco gengival.


Acabamento do preparo com instrumento multilaminado. A adaptação da restauração indireta depende de um eixo de inserção definido, de uma adequada expulsividade e de uma linha de término nítida e uniforme. Para tanto, toda e qualquer medida que traga lisura ao cavo superficial deve ser empregada.
Coordenação - Prof. Dr. Carlos Agra

Inserção do segndo fio retrator.

O segundo fio retrator deve apresentar diâmetro suficiente para que fique aparente ao longo de todo o cavo superficial. O uso de um fio pequeno pode implicar em coaptação do tecido gengival por sobre o mesmo, o que implica em ausência de afastamento.
Fio retrator posicionado. O fio deve permanecer entre 5 a 10 minutos no sulco para garantir um efetivo afastamento do tecido. O uso de soluções hemostáticas é conveniente para impedir o sangramento do tecido gengival dado o possível trauma originado pela inserção do fio. Na técnica de dupla moldagem este tempo equivale ao necessário para que se realize a moldagem com o material pesado.

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Na técnica de dupla moldagem o alívio do material pesado é fundamental. Quando não se faz o alívio há a necessidade de exercer uma pressão excessiva para voltar a encaixar a moldeira carregada com o material fluido. Esta pressão resulta em compressão e deformação do material pesado. A remoção da moldeira da boca permite que o material pesado volte ao seu estado anterior, o que comprime o material fluido e resulta em uma moldagem, no caso de um preparo extra coronário, com dimensões menores que as apresentadas pelo dente preparado.
Uma forma simples de obter o espaço para o material fluido é realizar a primeira moldagem com o material pesado recoberto por uma lâmina de plástico. Como sugestão de material para este alívio pode-se usar a lâmina plástica da embalagem de autoclave.

As siliconas de adição podem ser utilizadas com a técnica de dupla moldagem ou de passo único. A vantagem da técnica de dupla moldagem é a de possibilitar um melhor controle sobre a ocorrência de falhas, como a formação de espaços entre o material restaurador e os dentes. Isto pode ocorrer com mais frequência na técnica de passo único, em especial quando a inserção da moldeira com o material de moldagem não ocorre respeitando um único eixo de inserção.
Material pesado e lâminas de plástico recortadas.

Material pesado misturado, inserido na moldeira e recoberto com as lâminas de plástico.

Após a polimerização do material pesado as lâminas de plástico são removidas e a moldagem é carregada com o material fluido. Depois deste processo uma ponta de extremidade fina é acoplada na extremidade do dispositivo auto misturador.
Remoção cuidadosa do segundo fio retrator.

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O primeiro fio retrator (de pequeno diâmetro) é mantido no sulco para impedir que fluidos oriundos do sulco gengival dificultem o ingresso do material de moldagem no interior do sulco.

O material fluido é dispensado em direção ao sulco gengival. Com movimentos circulares o dente preparado é recoberto com material fluido. Material adicional é espalhado sobre os dentes vizinhos. A moldeira é assentada sem que se exerça pressão.

Após o tempo necessário para a polimerização do material fluido, a moldeira é removida da boca exercendo-se um força que resulte em deslocamento da moldeira com uma direção mais próxima possível do eixo axial dos dentes. Deve-se evitar movimentos de báscula, que estes induzem a ocorrência de deformações desnecessárias no material.

Detalhe da moldagem. O protético deve ter a possibilidade de distinguir com clareza os limites do preparo além de ser capaz de identificar a inclinação das paredes externas circundantes para poder compatibilizar o perfil de emergência da prótese. A moldagem deve ser desinfetada e o primeiro fio retrator deve ser removido.

Corte que apresenta detalhe de uma moldagem realizada com esta técnica de alívio. A uniformidade de espaço alcançada para o material fluido é uma garantia de que o material pesado não será pressionado na segunda etapa de moldagem com o material fluido. Outro fenômeno que se evita com esta técnica é o de que o material pesado pressione a borda gengival afastada, expulsando do sulco o material fluido.
Dentre as opções de técnicas para a moldagem com siliconas a técnica em dois passos apresenta a desvantagem de que um tempo clínico maior é exigido quando comparada à técnica de passo único. No entanto, se há a necessidade de promover o afastamento gengival, a moldagem com o material pesado coincide com o período exigido para que o fio retrator cumpra sua função adequadamente. Além disso, há uma maior segurança quanto à possibilidade de que se criem vazios entre o material de moldagem e os dentes. Na técnica de passo único não é rara a ocorrência destas falhas, fruto da inserção da moldeira na boca seguida de movimentos de báscula para que exista um melhor assentamento.

Aspecto final da restauração confeccionada com cerâmica reforçada por lítio.

Vista oclusal.

 Na técnica de dupla moldagem o alívio do material pesado é fundamental. Quando não se faz o alívio há a necessidade de exercer uma pressão excessiva para voltar a encaixar a moldeira carregada com o material fluido(3). Esta pressão resulta em compressão e deformação do material pesado. A remoção da moldeira da boca permite que o material pesado volte ao seu estado anterior, o que comprime o material fluido e resulta em uma moldagem, no caso de um preparo estra-coronário, com dimensões menores que as apresentadas pelo dente preparado.

Coordenação - Prof. Dr. Carlos Agra

REFERÊNCIAS
1.            Craig RG, Urquiola NJ, Liu CC. Comparison of commercial elastomeric impression materials. Operative dentistry. 1990;15(3):94-104. Epub 1990/05/01.
2.            Chen SY, Liang WM, Chen FN. Factors affecting the accuracy of elastometric impression materials. Journal of dentistry. 2004;32(8):603-9. Epub 2004/10/13.
3.            Franco EB, da Cunha LF, Herrera FS, Benetti AR. Accuracy of Single-Step versus 2-Step Double-Mix Impression Technique. ISRN dentistry. 2011;2011:341546. Epub 2011/10/13.









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